Viaturas da Polícia Federal e da Militar estacionadas na sede da PF, onde se concentra o centro de operações contra o roubo de caminhões (Divulgação/ PF)
Grupo especializado da PF recupera R$ 5 milhões em caminhões roubados
Data
09/Maio
Em 15 meses foram presas 114 pessoas e identificadas três quadrilhas com 40 suspeitos envolvidos
Em 15 meses de atuação do Grupo Especializado em Roubos e Furtos de Cargas e Caminhões da Polícia Federal (PF) de Campinas foram recuperados cerca de R$ 5 milhões em veículos. A equipe investiga os crimes praticados por associações e organizações criminosas que agem nas rodovias que cruzam a região de Campinas e também dentro das cidades. Ao longo deste período, os trabalhos da equipe resultaram na prisão de 114 pessoas e em três operações de repercussão, nas quais foram identificadas três quadrilhas distintas que somaram ao menos 40 suspeitos envolvidos diretamente – um morreu durante a ação e demais presos.
O grupo está centralizado na sede da PF em Campinas e os trabalhos começaram em dezembro de 2021 articulando informações com as polícias Civil; Militar, que atua nas ruas; Militar Rodoviária e o Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). Os policiais federais cruzam dados de ocorrências registradas e passam a compartilhar com as demais corporações informações sobre modus operandi e descrições dos criminosos.
“Esse grupo especializado só existe em Campinas e é composto por policiais selecionados no País todo. Eles trabalham 24 horas, sete dias por semana, exclusivamente com roubo de cargas e caminhões. Eles são substituídos periodicamente para que o trabalho continue em alto nível e não haja nenhum decréscimo. O que nós fazemos aqui é identificar essas pessoas e ligá-las a esses crimes e agora compartilhar essas informações com o Gaeco, com a Polícia Militar e com a Polícia Civil para a solução de diversos boletins de ocorrências que estão parados nas delegacias aguardando solução de autoria”, explicou o delegado titular da PF em Campinas, Edson Geraldo de Souza. “Entramos com esse grupo para articular todo esse trabalho. Então todo esse trabalho de investigação ou todo esse trabalho que tá lá pendente com as informações da Polícia Militar, agora é trabalhado e devolvido com as informações sobre autoria”, acrescentou o delegado.
A região de Campinas é apontada como “epicentro” dos roubos de carga no Estado de São Paulo, segundo a PF, haja vista a qualidade e a ligação das principais estradas que passam por ela. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) apontam que só nos primeiros quatro meses deste ano, foram 2.188 roubos de carga no estado, o equivalente a 18 roubos por dia.
A primeira operação resultado do trabalho do grupo foi a “Rapina”, deflagrada em junho de 2022, na qual havia 15 alvos de mandados de prisão temporária e especialistas em roubos de cargas em rodovias do estado. A investigação durou 18 meses e identificou a relação do grupo em ao menos nove crimes, no período de julho de 2020 a março de 2022.
Foram casos que envolviam a subtração de cargas de carnes, cervejas, agrotóxicos e polietileno - um insumo plástico usado em diversas indústrias. “Tem aumentado muito o crime de roubo de carga e isso tem um forte impacto social e econômico, no encarecimento dos produtos, do transporte, do seguro, do frete. A região de Campinas é o epicentro do estado, quer pela sua alta concentração de empresas, de renda, de mercado varejista e atacado. Tem sido uma região que tem sofrido muito”, disse Souza.
Na segunda ação, denominada Malta e realizada com a Polícia Militar Rodoviária (PMR), foi desarticulada uma organização criminosa com pelo menos 13 integrantes que agiam nas rodovias Anhanguera e Bandeirantes, no eixo entre Campinas e Cajamar, quase na entrada de São Paulo. Os alvos dos bandidos eram caminhões e cargas. O grupo foi descrito como violento e no período de 20 dias cometeu sete assaltos, sendo quatro deles em um único dia. Os policiais federais constataram que bandidos se revezavam nas funções para não serem reconhecidos e usavam, ao menos, três carros na ação. Os veículos eram populares para não chamar a atenção e tinham cuidado nas ações para não tomarem multa e assim evitar serem descobertos pela polícia.
O grupo caçava os alvos nas rodovias. Em todas as ações, as vítimas eram levadas para cativeiros e até os pertences delas eram roubados. Além das buscas nas pistas, os criminosos também faziam pesquisas em sites e chegavam a se cadastrar em aplicativos para oferecer uma falsa entrega.
Em outra operação, nesta semana, a Insídia, o grupo descobriu uma associação criminosa especialista no roubo, furto, receptação e estelionato de caminhões em Campinas, Sumaré e Hortolândia. O grupo furtava, em média, um caminhão por dia, mas teve uma ocasião que levou seis de uma só vez. O critério era de caminhões estacionados, no qual um bandido da quadrilha fotografava os veículos que posteriormente seriam escolhidos. Eles também se passavam por mecânicos ou funcionários de empresas ligadas ao Departamento de Trânsito (Detran) para simular a troca de placas e não levantar suspeitas. Os caminhões eram de um determinado modelo e vendidos após a quarentena, sem ser desmontados.
“O valor agregado dos veículos e as cargas que são subtraídas, chamam muita atenção e impacta bastante nas questões econômicas dos nossos municípios, principalmente nos nossos ativos operacionais. Ou seja, o direcionamento do policiamento acaba se focando muitas vezes para combater esse tipo de delito e a gente tem uma percepção de diminuição de energia para outros delitos que estamos também que estar atendendo. Então esse trabalho integrado com a Polícia Federal é importantíssimo”, destacou o comandante do 48º Batalhão de Policiamento Militar do Interior (BPMI), major Roney Alexandre de Lima.