Motoristas de caminhão aderem à manifestação contra o crescente número de roubo de cargas no Rio. Foto Divulgação
Motoristas de caminhões e carretas fazem uma manifestação contra roubo de cargas no Estado do Rio de Janeiro
Data
15/Maio
Centenas de motoristas de caminhões e carretas fazem, na manhã desta segunda-feira, de uma manifestação contra roubo de cargas no Estado do Rio. A mobilização reúne empresários e motoristas autônomos. A concentração teve início antes das 6h no Mercado São Sebastião, na Penha, Zona Norte do Rio. O protesto conta com dois carros de som, com as faixas "Roubo de cargas: já morreram três motoristas, quantos mais ainda precisam morrer?" e "Roubo de cargas agride a sociedade, gera mais desemprego e produtos mais caros à população". Segundo o Centro de Operações Rio, o trânsito apresenta retenções na pista central da Avenida Brasil na altura do Caju, no sentido Centro.
Equipes da CET-Rio e da Polícia Militar acompanham os manifestantes durante o trajeto em direção à Rodovia Presidente Dutra. Os motoristas deixaram o ponto de concentração por volta das 7h48 no sentido Pavuna, onde se encontram com outros para trafegar no sentido Into, no Caju. A CET-Rio e a Polícia Militar seguem os veículos, num deslocamento organizado e sem tumulto. O Centro de Operações informou que, às 8h09, não há impactos no trânsito. Agentes da CET-Rio fazem um bloqueio na saída do Mercado São Sebastião para a passagem dos veículos com os manifestantes, que será desfeito assim que todas saiam.
Manifestação de caminhoneiros contra roubo de cargas
Alessandra Guedes, de 45 anos, foi a primeira a parar a carreta no pátio próximo à Avenida Brasil. Motorista há mais de dez anos e acostumada a fazer viagens no Nordeste e Sudeste do país, ela conta que já presenciou assaltos e arrastões na cidade:
— O Rio certamente é a região mais violenta. As obras na Avenida Brasil congestionam o trânsito e facilitam a ação de bandidos das comunidades ao entorno. Estou acostumada a andar na madrugada e geralmente fico dois dias na estrada. Na empresa em que trabalho, que fica na Vila Kennedy (na Zona Oeste da capital), eles ensinaram a gente a ter uma direção evasiva, que é manter distância, ficar a 360 graus e olhar no retrovisor a cada dois segundos para ver se não está sendo seguido.
A motorista, que é carioca de Padre Miguel (também na Zona Oeste), comenta que se arriscou na profissão pela paixão em pegar a estrada. Mãe de um jovem de 20 anos, ela disse que a classe anda desvalorizada e exposta ao perigo.
— Temos que ter jogo de cintura para lidar com a violência da cidade, principalmente a gente que é mulher. A gente fica propensa ao roubo de cargas e a assaltos. Eles entram na lateral, pegam a arma e mandam encostar. Temos grupos de amigos que ficam informando essas ocorrências, mas não tem policiamento suficiente nas vias.
Mudança no enquadramento no roubo ou furto de cargas
Uma reportagem do EXTRA publicada no último domingo revelou que o aumento de 44,1% nos roubos de carga em março, comparado ao mesmo mês do ano passado (de 340 para 490), fez com que a Polícia Civil retomasse uma portaria de janeiro do ano passado que não estava sendo seguida. Desde abril, a cúpula da corporação tem enviado alertas em grupos fechados de WhatsApp a seus integrantes estabelecendo critérios para o enquadramento do roubo ou furto de carga. Para o registro e investigação, as mercadorias têm que ser transportadas por caminhões e vans. Quando a carga for roubada de veículos com menos de 1,5 tonelada, como motos e carros comuns que fazem entregas, a classificação poderá ser como roubo de rua ou veículo. Essa mudança traz como consequência a redução do índice.
Outros critérios
De acordo com a portaria, os veículos de passeio com menos de 1,5 tonelada só podem ser classificados na modalidade roubo de carga se tiverem quatro requisitos: a placa vermelha, a nota fiscal, a inscrição no Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga e o seguro obrigatório de responsabilidade civil do transportador.
Ao final, a informação é enviada para o Instituto de Segurança Pública (ISP), responsável pela análise e divulgação dos dados, uma vez que os critérios para definir os delitos nos registros de ocorrência.
Morte durante abordagem
Um dos indicativos que apontam a escalada de violência que os motoristas de caminhões de carga enfrentam é o risco de morte. Os manifestantes apontam pelo menos três perdas ocorridas entre colegas de profissão. Em outubro do ano passado, Jean Lucas Benjamin de Oliveira Alves, de 31 anos, morreu ao ser baleado quando fazia uma viagem na Avenida Brasil, altura de Bonsucesso, na Zona Norte da cidade. Ao ser atingido, ele perdeu o controle do veículo, colidiu em uma mureta e foi arremessado.
Jean Lucas dirigia o terceiro de um comboio de três caminhões, que, diferente de outras ocasiões, não contava com escolta. Os caminhoneiros andam em grupos para evitar abordagens. Ele acabou se separando dos demais e em seguida foi atingido na cabeça. O veículo tinha ao menos 15 marcas de tiros.